Autoficção em Séries

O íntimo como enredo

A autoficção tem se consolidado em várias mídias, despertando a atenção de uma audiência ávida por narrativas que pareçam únicas e autênticas. As semi-autobiografias aparecem cada vez mais na TV, com diversas séries de sucesso que trazem características narrativas, estéticas, temáticas e representacionais que estão atravessadas pela escrita do eu.

É o caso da premiada Master of None, das disruptivas I May Destroy You e Atlanta, e da aclamada Better Things. Todas trazem autores que se inspiraram em suas vivências e questões identitárias para escrever séries que apresentam modos outros de narrar - seja por subverter estereótipos, trazer experimentações estéticas ou hibridizar gêneros e técnicas para criar séries que abordassem questões subjetivas, que foram invisibilizadas pelas grandes produções.

Nesse curso, faremos uma análise histórica, sociocultural e narrativa do fenômeno da autoficção nas séries. Partiremos de um panorama de mais de 90 séries semi-autobiográficas para debater como tais narrativas surgiram, e quais enfoques temáticos e narrativos foram apresentados ao longo das décadas. Faremos análises de caso para entender como, hoje, predomina a abordagem ultrapersonalista: foco no íntimo de seus protagonistas, com técnicas narrativas que colocam o subjetivo, o identitário e o realismo em primeiro plano.

Programa Aula a Aula

Aula 1: Autoficção nas séries: teoria, histórico e mercado

  • Autoficção e narrativas do eu: teorias e definições
  • Catalogando as semi-autobiografias televisivas: de The Dick Van Dyke Show (1961) a Bebê Rena (2024)
  • Fase I. Surgimento (1961-1999): showbusiness, metareferencialidade e comediantes consolidados
  • Fase II. Consolidação (2000-2015): modernização e ultra personalismo alavancados por Girls e Louie
  • Fase III. Espraiamento (2015-presente): semi-autobiografia ultrapersonalista e contemporaneizações temáticas e narrativas

Aula 2: O ultrapersonalista: auteur, nicho, identidade e autenticidade (Análise de caso: Better Things)

  • A busca pela experiência vicária, a demanda por autorização discursiva e a proliferação da visão realista
  • Better Things: feminismo, maternidade e a experiência vivida e narrada em 1a pessoa
  • “Quero elevar o mundano”: os pormenores ociosos na narrativa do dia a dia, e suas marcas estruturais e estilísticas
  • A multiplicidade de sentimentos da escrita semi-autobiográfica
  • Os impactos da narrativa semi-autobiográfica ultrapersonalista na recepção crítica

Aula 3: Do stand-up comedy às séries de TV: as camadas de realismo nas autoficções de comediantes (Análise de caso: Master of None)

  • Master of None e seus 3 níveis de realismo e autenticidade: narrativo-textual, narrativo-estético e intertextual
  • A performatividade repetida e a consonância narrativa de Aziz Ansari
  • Jerry Seinfeld, Ramy Youssef, Aziz Ansari, Louis CK, Tig Notaro, Abby Mecnamy, Alan Carr: a jornada do stand-up comedy às séries autoficcionais
  • Autoficção: um reino propício às dramédias

Aula 4: Validações biográficas distintas, estéticas e temáticas diversas

  • Please Like Me, Big Boys, Queer You Are, Changing Ends, Work in Progress, Transparent: narrando experiências queer
  • Os feminismos plurais aliados à escrita autoficcional: Pen15, Girls, I May Destroy You, Transparent
  • O risível, o absurdo e o horror estadunidense em Atlanta
  • Pen15 e Big Mouth: exageros e desconfortos estéticos evocando o real hiperbólico da puberdade
  • Democratização parcial das narrativas: disrupção versus manutenção da hegemonia

Aula 5: Subvertendo a escrita a partir do eu: disrupções, hibridismos e autonomia narrativa (Análise: I May Destroy You)

  • A autoficção ultrapersonalista como fissura da cultura narrativa dominante
  • A narrativização do trauma e a recusa à narrativa clássica em I May Destroy You
  • A relação da autoficção com as traumédias (Bebê Rena, Atlanta, Work in Progress, My Mad Fat Diary, Pen15)

Aula 6: Desenvolvendo e vendendo uma série autoficcional

  • "The superhuman filmmaking" de Pamela Adlon em Better Things
  • Os "momentos de silêncio" e a subjetividade plural em Ramy
  • Os "character stand-alone episodes" que permeiam as autoficções
  • Narrando cidades e comunidades: o universo da série como destaque
  • O pitching de Girls, de Lena Dunha
  • Autoralidade na autoficção e a distinção no mercado

"Consumimos vorazmente as narrativas de vida a partir de páginas e telas, porque elas tocam em sonhos e desejos; em possibilidades de vida recém imaginadas para nós mesmos e para os outros, tanto individual como coletivamente; e em nossa própria narrativa autobiográfica no processo da vida cotidiana"
  • Gillian Whitlock

    16 de Julho a 20 de Agosto 4ª feiras, das 19h30 às 21h30

    Sobre o Professor

    João Pedro Pinho é roteirista e pesquisador. Trabalha com curadoria, desenvolvimento e programação de filmes e séries na TV Globo. Escreveu roteiros de 5 episódios do drama histórico “Diáspora Americana”, contemplado no PROAC (Nation Filmes, criação Rubens Marinelli e Cassio Pardini). Tem 7 projetos autorais com os quais venceu concursos e participou de labs. “Recanto de Teresa”, série de melodrama criminal, foi selecionada no LAB Varilux 2022. “Entre Empadas & Empanadas”, longa de dramédia LGBTQ+, venceu os concursos LATINX 2022 e Descobrindo Búzios 2023. “Os Souza”, dramédia coming-of-age autoficcional, venceu o concurso de roteiro de séries do 10° FIACINE. “Cozinhas & Refúgios”, docu biografia sobre cozinheiros imigrantes, participou das Doctorings Sessions do Série_Lab 2024. Como professor, ministra os cursos autorais “A Dramédia nas Séries” (Roteiraria), “Autoficção em Séries de TV” (MAR) e “A Traumédia nas Séries” (WR51). É criador, ao lado de Pedro Riguetti, do ciclo de masterclasses sobre narrativas audiovisuais “Detonante Narrativo”. Foi curador do Série_Lab e consultor no Concurso Narratologia.

        Desconto para ex-alunos e pagamentos via PIX!

        Valor Cheio: R$380,00 / PIX: R$345,00

        Ex-alunos: R$340,00 / PIX: R$305,00

        Aulas via Zoom, gravações disponíveis por 6 meses

        *A realização do curso está sujeita ao quórum

        Filmografia Sugerida

        • Atlanta (Donald Glover, FX - Disney+)
        • Bebê Rena (Richard Gadd, Netflix)
        • Better Things (Pamela Adlon, FX - Disney+)
        • Girls (Lena Dunham, HBO - MAX)
        • I May Destroy You (Michaela Coel, BBC/HBO - MAX)
        • Master of None (Aziz Ansari, Netflix)
        • Pen15 (Anna Klonke e Maya Erskine, Hulu)
        • Please Like Me (Josh Thomas, ABC TV)
        • Ramy (Ramy Youssef, Hulu)
        • Work in Progress (Abby Mecnamy, Showtime)

        Bibliografia

          Modern Romance - Aziz Ansari e Eric Klinenberg

          Realist Vision - Peter Brooks

          O conceito de autoficção: demarcações a partir da literatura brasileira contemporânea - Anna Fraedich

          Feminist cinematic television: Authorship, aesthetics and gender in Pamela Adlon‘s Better Things - Jessica Ford

          Women’s indie television: the intimate feminism of women-centric dramedies - Jessica Ford

          Contemporary autofiction and metamodern affect - Alison Gibbons

          Cultura e Representação - Stuart Hall

          Scripting Indianness: Remediating Narratives of Diasporic Affiliation and Authenticity - S. Radha Hedge

          The Laughter and the Tears: Comedy, Melodrama and the Shift Towards Empathy for Mental Illness on Screen -  Fincina Hopgood

          O choque do real: estética, mídia e cultura - Beatriz Jaguaribe

          TV Writing On Demand: Creating Great Content in the Digital Era - Neil Landau

          The Irresistible S’more of Dramedy - Jordan La Pier

          The autobiographical pact. Phelippe Lejeune

          Deconstructing Larry," The Last Man": Larry David," Seinfeld, Curb Your Enthusiasm", and Comedies of the Self - Marc Leverette

          Cultura narrativas dominantes: o caso do cinema - João Maria Mendes

          The Pedagogy of Queer TV - Ava Parsemain

           A dramédia em Girls: Da euforia à disforia, do episódico ao serializado - João Pedro Pinho

          Semi-Autobiografia e Realismo em Séries Televisivas: Uma Análise de Better Things e Master of None - JP Pinho

          Louie, Louis: The Fictional, Stage, and Auteur Personas of Louis CK in Louie - Melanie Piper

          O efeito de realidade e a política da ficção - Jacques Ranciére

          O que é lugar de fala? - Djamila Ribeiro

          The joke that wasn’t funny anymore: Reflections on the metamodern sitcom - RUSTAD, Gry C. e SCHWIND, Kai Hanno

           Adaptation of stand-up persona to the narratives of sitcom and dramedy - Zemfira Salamova

          O show do eu - Paula Sibilia

          Atlanta Dreaming. Dissent - Bijan Stephen

          Teoria do Drama Moderno (1880-1950) - Peter Szondi

          The Surprisingly Fantastic Script: Imaginative Immaterial Labor," Multitudinous" Screenwriting, and Genre Innovation Within Peak TV - Ida M. Yoshinaga

          Up next: Representations of the underrepresented in streaming film and television - Hanna Wold